Uma situação constrangedora

Outra visão
Ao ler um artigo em jornal, no domingo 26 de junho, sobre pessoas com deficiência no mercado de trabalho e o relato de que o grande desafio é o preconceito, lembrei-me de um fato acontecido comigo.
Há uns três meses atrás entrei em uma Farmácia destas que tem um letreiro bem grande “Aqui funciona uma farmácia popular”, em busca de um medicamento específico para tratamento neurológico de uma pessoa idosa.
Na época, já alguns outros estabelecimentos iguais haviam dito estar em falta. Mas, a necessidade levou-me a continuar procurando, o estabelecimento estava com um quantitativo de clientes respeitável, a maioria idosos.
Porém, não havia ninguém disponível para dar uma primeira informação, o que obrigava todos a se aglomerarem no balcão, fosse para efetivar a compra, pesquisar sobre a existência do medicamento ou preço.
Resultando na formação de uma fila bem extensa, num espaço apertado, que contribuía bastante, para um mal estar geral. Eu, como todos, ansiava ser atendida, no entanto, quando cheguei perto do balcão fui interpelada por uma pessoa idosa que exigia seu direito de atendimento preferencial. Tal situação, levou-me a buscar de outra forma a informação se havia ou não o medicamento sem permanecer na fila e correr o risco de mais uma vez ter que ceder meu lugar.
Dirigi-me a uma jovem e perguntei sobre o tal medicamento, esta sequer me olhou. Tomada de total indignação, indaguei alto quem era a gerente. Após alguns minutos e por já estar sendo criada ao meu redor uma roda de pessoas que haviam percebido o ocorrido e também se exaltaram, surge alguém que se apresenta como a responsável e com um total desdém informa que não há o medicamento, finalizando que é preciso ir para a fila para ser atendida. De imediato, mesmo sem necessidade, narrei o acontecido. Ela muito à contragosto, diz entre os dentes: “Senhora, ela é muda”.
A minha indignação deu lugar a vergonha, eu, cidadã havia interpretado o silêncio de alguém que não portava um crachá sinalizando sua dificuldade, colocada de forma desrespeitosa e vexatória por parte desta gerência em uma situação que poderia trazer maiores problemas, como uma tremenda falta de educação e profissionalismo. Naquele momento pude perceber o quanto há de verdade no relato de pessoas com deficiência quando com toda a propriedade colocam que “a lei facilita o acesso de pessoas com deficiência no mercado, mas não reduz o preconceito”.
O mais triste é ter a consciência que o preconceito é definitivamente a maior deficiência do ser humano.


autor: Tania Werneck

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