COMO SE VIVE NUM MUNDO DE GIGANTES


Recém chegados à lista de portadores de deficiência os anões eram, até pouco tempo, vistos como personagens circenses. Muita gente ainda vê assim, mas o que pouca gente vê é que eles são pessoas capacitadas e vivem uma vida praticamente normal, têm amigos, constituem família, seguem carreiras profissionais nas mais variadas áreas. Muitas delas longe de palcos e da imagem que a maioria tem deles. Acontece que eles têm uma enorme dificuldade de levar suas vidas de forma independente aqui no Brasil, não porque não sejam capazes disso, mas porque no Brasil ainda se trabalha com “padrões” e “médias”. É só andar pela cidade com mais atenção para perceber que tudo é feito para a “maioria”. A universalização das vias públicas, a acessibilidade, estas não saem do papel com tanta facilidade. Que dizer dos balcões de lojas que não permitem ver alguém abaixo de 1m, dos botões de elevador que ficam a 1,20m, para não falar do botão do 22º andar que pode provocar um enorme constrangimento até para aqueles que nem são portadores da síndrome, dos famigerados caixas eletrônicos, muito debatido entre os grupos de pessoas que vivem abaixo da altura de uma criança de 8 anos e tantos outros exemplos de descaso com as pessoas de baixa estatura. Outros países já estão bem melhor adaptados aos problemas deste e de outros grupos de pessoas que não se encaixam na “média”. Aqui eles vão vivendo, como heróis, diga-se de passagem, enfrentam um mundo todo dia que não foi pensado para eles, que não foi feito para todos. Saem de casa e enfrentam ônibus, trens, ruas e escadas para cumprir percursos simples para a “maioria”. Tudo isso em silêncio. Com toda a áurea de espetáculo que as pessoas insistem em colocar neles, talvez tenham necessidade de anonimato. Nesse caso não deviam. Lutar pelos direito de ir e vir que está na constituição não deveria ficar para depois. É difícil, no Brasil há o hábito do “deixa disso”. Todos nós achamos que lutar não dá em nada. Mas, quando grupos como os dos anões conquistam um direito, mesmo que ele primeiro tenha que vir na forma de lei, quem ganha é a sociedade. Não se pode achar que estamos em um mundo de igualdades quando ainda ignoramos quem é diferente de nós. Há algum tempo – pouco, é verdade! – aprendemos que somos todos iguais, agora chegou a vez de reconhecer que todos na sociedade tem um papel a desempenhar e cabe a essa sociedade permitir que todos, fora de padrão ou não, possam desempenhá-lo. Ninguém precisa ser carregado, os anões não querem caridade, eles querem ser respeitados, querem ter o direito de cumprir com a sua parte. Não é tão difícil. Com um pouco de criatividade, e até copiando algumas coisas que já dão certo lá fora, é possível repensar certos conceitos e tornar o Brasil um país de todos, mesmo.

Gabriela Bretto – Estudante do Curso de Design de Interiores da UVA

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