VISITABILIDADE

Ao pesquisar sobre o Design universal deparei-me com uma nova palavra: visitability, que traduzi para o português como visitabilidade. Para eu compreender o conceito foram necessárias muitas pesquisas, já que é difícil entender como ela se diferencia do Design Universal. Abaixo são colocadas algumas explicações que, espero, possam trazer algum esclarecimento.

Eleanor Smith, acometida por pólio como criança, foi quem lançou o conceito de visitabilidade, em Atlanta - EUA, e fundou o "Concrete Change" . Essa filosofia baseou-se na crença de que as pessoas com dificuldade de locomoção poderiam ter acesso básico às novas casas construídas de maneira que elas pudessem ser visitáveis ou acessíveis, e diz respeito às casas que foram preparadas não só para a acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências visitando casas de não-deficientes, como também para possíveis necessidades futuras dos não-deficientes. Essas casas permitem às pessoas com limitações visitar amigos, manterem-se na comunidade onde possam criar vínculos e minorar os problemas relacionados ao isolamento. Trata-se de um movimento que pretende alterar as bases da prática construtiva, de maneira que todas as casas novas, projetadas ou não para proprietários com alguma deficiência, ofereçam condições de tornar as casas com fácil acesso para as pessoas que venham a adquirir dificuldades motoras. Podem-se usar várias palavras como: acessibilidade, desenho universal, casas para a vida toda (life-time homes), adaptáveis, visitáveis....essa última é usada para definir as seguintes metas:
  • O foco principal é a casa - não é para locais públicos como: restaurantes edifícios públicos e etc.
  • Todas as casas - não só as casas dos que precisam;
  • Diminuir para itens essenciais a lista do que se deve fazer para transformar uma casa acessível. Permitindo, pela facilidade, que as casas sejam acessíveis a curto prazo.

A visitabilidade está ao alcance de todos, é sustentável e de fácil adaptabilidade para projetos de casas novas. Para uma casa ter visitabilidade deverão ser implementadas apenas três medidas simples e práticas:

  • Uma entrada sem degrau e um caminho acessível;
  • Uma porta de entrada da casa larga o suficiente para permitir a passagem de uma cadeira de rodas;
  • Acesso a pelo menos um banheiro da casa, podendo esse ser um lavabo.

Transformando esses itens em uma frase, pode-se dizer: entrar e sair de casa, e usar o banheiro; essencial para uma visita, como também para sobreviver em sua casa, estando com algum tipo de problema de locomoção temporário ou a longo prazo. Essas três medidas pretendem trazer benefícios para todas as pessoas, mesmo que de imediato elas atendam às pessoas com deficiências. Não se deve esquecer que os residentes envelhecem e as chances de adquirir algum tipo de dificuldade aumentam com a idade. As casas construídas como visitáveis tornam as modificações para atender a qualquer tipo de necessidade, mais fáceis. Isso com certeza encoraja os proprietários, por possibilitar que mantenham suas independências e privacidades à medida que forem envelhecendo, o que é bem melhor do que serem obrigados a deixar suas casas.

Diferente das outras formas de detalhes que permitem a acessibilidade, a visitabilidade não assegura a acessibilidade em toda a residência, mas pelo menos garante que os principais locais da casa são acessíveis a uma pessoa em cadeira de rodas. O Desenho Universal, a nível social, permite completo acesso e participação em acontecimentos comunitários e a interação entre as pessoas.

A visitabilidade é um importante passo para permitir que se torne possível o acesso universal a vida da comunidade. Esse conceito com certeza está mais ligado aos locais onde há uma forte tendência de se morar em casa e por essa razão os EUA e a Inglaterra foram os primeiros a perceberem que essas não estavam preparadas para a acessibilidade. A Inglaterra foi o primeiro país a possuir uma lei, a qual exige que casas de 1 e 2 quartos sejam visitáveis, acesso básico as casas unifamiliares. Aqui no Rio de Janeiro, pela legislação, tem-se garantido o acesso às edificações multifamiliares e públicas através de rampas, as quais nem sempre são tão acessíveis assim.

Será que para uma casa, na qual o proprietário não possui nenhum tipo de dificuldade existe essa preocupação de garantir acesso a qualquer pessoa? Essa talvez seja a questão mais interessante dessa palavra visitabilidade. A Visitabilidade pretende que todas as casas e edifícios sejam projetados e construídos com esse acesso básico. Como o nome sugere, o princípio desse projeto é permitir que pessoas com deficiências possam independentemente ter acesso a casas de pessoas não deficientes. Permitem também aos não-deficientes continuarem a residir em suas casas, se porventura eles adquirirem alguma deficiência, crônica ou temporária. Inclusive as pessoas que estão sob algum processo de doença ou recuperação podem retornar às suas casas mais cedo, continuando sua reabilitação sem necessidade de internação. Casas com acesso básico podem ser negociadas com pessoas com deficiências, as quais conseguem modificá-las com mais facilidade, de acordo com as suas necessidades.

Estas com certeza gastariam mais adaptando uma casa sem acesso ou em uma casa construída para um deficiente específico. O custo de colocação desses itens que garantem a visitabilidade em casas novas, nos EUA, é de $25/casa em contrapartida, fazer o retrofit (modernizar) uma casa para acomodar, esses mesmos itens, custa muito mais. Atualmente quando as pessoas ficam mais velhas ou com alguma dificuldade de locomoção, elas são forçadas a mudar de casa, já que o custo de adaptá-las é alto. Porém, se os detalhes são incorporados no início da construção da casa, eles acrescentam pouco no custo da obra. Se a demanda por esses detalhes e produtos aumentar e se tornar comum, a produção em massa provavelmente tornará esses produtos mais baratos.

A visitabilidade é um grande passo para o Desenho Universal a nível mais amplo, já que a facilidade para a aplicação de detalhes para a visitabilidade é maior. Pelo menos em um futuro próximo, mais casas visitáveis serão construídas do que casas que estejam completamente dentro dos preceitos do Design Universal. O projeto para a casa visitável é consistente com o conceito do Design Universal. Pode-se simplificar e definir que a visitabilidade está mais ligada ao conceito da casa, já o Design universal é um conceito mais amplo, engloba o Desenho Industrial, os objetos. Finalizando e esperando ter ajudado no entendimento dessa nova palavra, pode-se afirmar que se a acessibilidade funciona, ninguém a percebe, mas se não funciona, ela com certeza chama a atenção.

Liane Flemming, arq., M.Sc

Referências Bibliográficas
CASSELMAN, Joel. Visitability: a new direction for changing demographics APA - American Planning Association. Disponível em: http://www.planning.org/affordablereader/pracplanner/visitabilityvol2no4.htm Acessado em: março 2005
NCDDR, National Center for the Dissemination of Disability Research. Accessibil-ity in Our Built Environment: Visitability. Technical Brief Number 8. Disponível em: http://www.ncddr.org/du/products/focus/focus8/ Acessado em: março 2005
RAGGED Edge on Line. Visitability: becoming a national trend? Ragged Edge Magazine on line. The Disability Rag's. Disponível em: http://www.raggededgemagazine.com/ Acessado em: março 2005 ? SMITH, Eleanor. Visitability Defined 2003. Concrete Change - Disponível em: http://www.concretechange.org/. Acessado em: março 2005
The built environment. Dansk Center for Tilgængelighed (Danish Centre for Accessibility) - Disponível em: http://www.dcft.dk/eng/built. Acessado em: março 2005
TRUESDALE, Steven, STEINFELD, Edward, Arch.D. Visit-Ability: an approach to universal design in housing. Rehabilitation Engineering Research Center (RERC) on Universal Design at Buffalo. Disponível em: Acessado em: março 2005

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